Deficiência nas Pessoas - Marcela
24 de julho de 2018

Deficiência está em mim ou na Cabeça das Pessoas? – Por Marcela Jahjah

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Por Diéfani Favareto Piovezan

Pessoal, hoje lhes trago o texto de uma grande e amada amiga, a Marcela Jahjah, ela conta um pouco sobre como tem sido a saga dela para se recolocar no mercado de trabalho enquanto pessoa com deficiência auditiva, mesmo com experiência e uma enorme bagagem.

Quando eu mesma comecei a minha procura por empregos aqui no Brasil, eu encontrei uma resistência enorme mesmo quando as vagas eram para Pessoas com Deficiência, pois a preferência era sempre por Deficiência Física ou Deficiência Visual.

Só para constar, eu ia mesmo tirar o primeiro parágrafo para ela pediu carinhosamente para mante-lo.

A Deficiência está Realmente em mim ou na Cabeça das Pessoas?

Por Marcela Helena Jahjah

Olá, queridos leitores! Meu nome é Marcela Jahjah, sou de SP, capital, a terra da garoa, tenho 37 anos e sou surda. Escrevo este artigo a pedido da Diéfani, a surda mais inteligente que conheço, autora deste blog. Se já leram este blog, com certeza, vocês a conhecem, minha querida amiga gênia que estudou Ciências da Computação e Psicologia, imaginem isso, e sendo surda? Toma, sociedade, um tapa na cara do preconceito! Bom, tenho quase certeza que ela vai apagar esses elogios a ela, mas, sinceramente, eu espero que ela deixe o mundo saber o quanto ela é brilhante! =D

Bom, permitam que eu me apresente… Perdi a audição nos dois ouvidos antes dos dois anos de idade, em decorrência de meningite. Como consequência, tive surdez total no ouvido esquerdo e quase total no ouvido direito, ou seja, meu caso é enquadrado como surdez profunda.

Uma tragédia, não é? Mas dizem que a 10% da vida é o que lhe acontece, e 90% é sua reação ao que lhe acontece… Eu nunca fui de desistir de nada, mesmo quando ainda era um bebê. Minha persistência, talvez até teimosia, em correr atrás do que quero é bem conhecida por todos.

Sendo assim, com ajuda e estímulo da minha família, comecei a usar um aparelho auditivo no ouvido direito (o esquerdo não respondia), fiz tratamento fonoaudiológico, aprendi a falar e a fazer leitura labial. Lembro como era exaustivo ir à fonoaudióloga quase todo dia, repetir as palavras incansavelmente, aprender a ler lábios com pouquíssimo retorno auditivo.

Mas desistir não era uma opção. Então, eu me adaptei, aprendi tudo que pude e, assim, frequentei escolas regulares e fiz tudo que as crianças da minha idade faziam. Quando não entendia os professores, mergulhava nos livros a fim de encontrar a explicação.

Com 21 anos, entrei na universidade, no curso de Letras. Eu era literalmente uma ratinha de biblioteca, lia tudo que me caía em mãos e tinha uma paixão inconfessável pela língua portuguesa, então, me pareceu a escolha mais lógica. Pensei em jornalismo, mas não.

Eu queria mesmo era aprender todos os meandros da última flor do Lácio, inculta e bela. Como tínhamos que optar por duas línguas, escolhi inglês. Espanhol parecia fácil demais para a minha sede de conhecimento. Hoje, olho pra trás e penso: “Puxa, ter escolhido este curso foi a melhor decisão que já tomei na vida!”

Quantos jovens não sabem sua verdadeira vocação, não têm sequer uma vaga ideia do que realmente amam. Eu tive realmente muita sorte de saber o que queria desde pequena.

Fiz o curso sem intérprete de Libras, pois, na época, não havia esta opção. Mas isso não foi nenhum empecilho pra mim, continuava com a tática de, caso não entendesse, recorrer aos livros. Já no final do curso, comecei a estagiar na SERASA.

Foi meu primeiro emprego e eu fazia revisões de texto. Adorei, mas queria mais. Surgiu uma oportunidade de trabalhar como tradutora em uma editora e mergulhei de cabeça. Fiquei um tempo lá, depois passei em um concurso no Tribunal de Justiça de SP e lá fui eu. Logo após surgiu uma oportunidade de trabalhar no Citibank e aceitei o desafio.

Após 6 anos no Citibank, fiz concurso novamente, e acabou, por coincidência, que o primeiro lugar que me chamaram foi no Tribunal de Justiça de SP, novamente… lá fui eu de novo.

Não cheguei a completar um ano no Tribunal, quando soube que minha mãe estava com câncer. Foi uma época bem complicada e decidi largar o Tribunal, afinal, eu sabia que poderia passar em outro concurso novamente, se fosse o caso. Mas mãe eu só tinha uma.

Por fim, minha mãe faleceu… E, quando você se depara com a morte, é inevitável rever sua vida inteira. Chorei por meses. Um belo dia, acordei e pensei: “Minha mãe, onde quer que ela esteja, não gostaria de me ver assim. Preciso reagir.”

Decidi ir pra Escócia fazer um intercâmbio, sonho meu desde adolescente, que adiei por causa da surdez. Pensei: “Que se dane, o máximo que vai acontecer é eu não me comunicar tão bem quanto um ouvinte. Pelo menos, se falhar, terei tentado. Se não tentar, passarei a vida pensando como poderia ter sido.” Fiz as malas e me mandei pra Edimburgo em pouco menos de um mês.

Eu e minhas ideias… Era brincadeira, né? Se um ouvinte tinha dificuldades falando inglês, imagina eu, com 10% da audição? Foi muito difícil mesmo, não vou negar. Mas minha teimosia persistente me fez seguir em frente.

Comecei a ter aulas particulares e a professora repetia, repetia, repetia, até que eu conseguisse assimilar a leitura labial. Claro que eu já tinha uma base de inglês, tive uma professora particular maravilhosa aqui no Brasil que me ajudou demais! Sem ela, acho que não teria sobrevivido na Escócia.

Eu conseguia falar e conseguia me comunicar, mas entender o que os escoceses falavam foi bem complicado… Porém, com o tempo, me acostumei e acabei assimilando.

Aqui cabe um adendo… os escoceses foram super gentis comigo. Todas as vezes que fui a uma loja, restaurante, museu, e falava que era surda, eles tinham a maior paciência comigo, falavam mais devagar, escreviam se precisasse, sem fazer aquela típica cara de enfado dos brasileiros.

Sem falar que nunca, never, em lugar algum, fui tratada como retardada ou incapaz, situação essa que nós surdos brasileiros, conhecemos bem, não é mesmo? A Escócia está a anos-luz à nossa frente em se tratando de surdez. Minha lembrança mais divertida foi de quando bati o maior papo com um taxista indo pro aeroporto.

Gente, imagina? O taxista passou o caminho inteiro olhando pra trás, pra que eu pudesse ler os lábios dele. Conversou comigo numa boa! Amei isso! Até o taxista sabia que eu fazia leitura labial e sabia como se comunicar comigo (sem eu ter que explicar nada). Assim que falei: “Oh, I’m sorry, I’m deaf.”, ele já sabia todo o protocolo. Quando isso aconteceria no Brasil? Fiquei encantada!

E aqui cabe mais uma “reclamação”. Voltei pro Brasil, crente que, com inglês fluente e uma baita bagagem profissional, com anos de experiência, arrumar emprego seria tranquilo. Mas qual não foi a minha surpresa quando vi que as vagas para Pessoas com Deficiência raramente eram de nível superior, muito menos tinham um salário digno.

Cheguei a fazer algumas entrevistas e era nítido que as empresas só queriam preencher a cota de Pessoas com Deficiência e não se importavam com minha experiência, minhas habilidades, meu inglês, nada disso. Candidatei-me a algumas vagas para pessoas sem deficiência na tentativa de “escapar” desse panorama, mas nunca obtive retorno.

É uma pena. Em pleno século XXI, com tantos surdos capacitados, o preconceito nas empresas ainda é enorme. Às vezes me pergunto: a deficiência está realmente em mim ou na cabeça das pessoas? Eu tenho plena confiança em mim e na minha capacidade. Tenho fé de que, com persistência e determinação, vou alcançar o meu lugar ao sol. A surdez me ensinou mais em 37 anos de vida do que uma pessoa ouvinte aprenderá em sua vida inteira.

O que realmente importa é que, embora haja muitas pessoas dispostas a desqualificar e estereotipar a surdez e os surdos, há muitas outras pessoas de mente aberta e coração generoso, capazes de ver fora da caixa e enxergar além do óbvio.

Em algum momento, eu e essas pessoas, a quem chamo de “anjos de Deus”, sempre nos encontramos. Essas pessoas me veem como pessoa, com todo meu potencial, todas as minhas qualidades e defeitos, e não apenas como alguém com limitações auditivas. Eu sou muito mais do que a surdez. A surdez é uma das minhas características, mas não define quem EU SOU. Essas pessoas especiais sabem disso, e são elas que fazem minha vida valer a pena.

11 de abril de 2018

A Falta de Preparação dos Profissionais de Acessibilidade – por Marcos Becker Larivoir

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Por Diéfani Favareto Piovezan

O Marcos Becker Larivoir é estudante na UFVJM e compartilhou em seu Facebook, o seu descontentamento com o desprepado dos profissionais que o deveriam auxiliar com a questão da acessibilidade.

Eu quis dar uma ajuda e mais um meio para que o seu relato fosse propagado.

“Estudo na UFVJM desde o início de 2015. Quem estudou ou convive comigo sabe que desde o início até o semestre de 2017/2 não tive nenhum apoio de acessibilidade. Com muita luta, consegui intérprete de libras neste semestre de 2017/2.

Problema resolvido? Não.

Elas apareciam em algumas aulas, faltando em muitas outras. Ao longo do semestre indo as aulas, não sabia se teria interprete ou não. Se não tinha, assistia a aula mesmo sem entender grande parte do conteúdo.

Se tinha, aí mais um problema:

Sou surdo bimodal (língua portuguesa como língua materna e conhecimento em libras básico), utilizo aparelhos auditivos (AASI e Implante Coclear) e a melhor forma de comunicação pra mim é leitura labial com voz.

Como não tenho conhecimento de libras avançado, e as intérpretes não podem repetir a fala do professor com voz pra não atrapalhar a aula, acabavam repetindo somente em libras ou leitura labial sem voz.

Esse método não foi eficiente para mim. Então, pedi que pudessem traduzir de modo bimodal (leitura labial com libras seguindo a gramática portuguesa).

Resposta de uma interprete: Ah eu não sei fazer isso. (Fazendo pouca questão)

Resposta de outra intérprete: Eu me recuso, não aceito fazer isso. Português e Libras são línguas diferentes, não podem misturar.

Isso é grave. Segundo a lei brasileira da inclusão:

“Capítulo IV Do Direito à Educação

Art. 30.

IV – disponibilização de recursos de acessibilidade e de tecnologia assistiva adequados, previamente solicitados e escolhidos pelo candidato com deficiência; “

A lei diz que é o meu direito de escolher a forma de acessibilidade que quero, afinal, sou eu que estou sendo atendido e o objetivo é eu entender as aulas.

Reclamei com o pró-reitor da universidade, mandei ofício para ele 3x e nada foi feito.

O semestre de 2017/2 foi o mais estressante e desmotivador pra mim. Tive um rendimento pior do que quando me virava sozinho. Posso dizer que mais me atrapalhou do que ajudou.

Pra curiosidade de alguns, meu curso é Ciência e Tecnologia/Engenharia Química.

Estou dizendo isso aqui, pois me vejo sem saída. Reclamo com o Núcleo de Acessibilidade, com o pró reitor, já fui na ouvidoria e nada. Acredito na força de reclamar na rede social e postarei aqui os problemas no dia a dia, como alguns me falaram para fazer isso e tenho visto uma surda fazendo isso.”

 

19 de março de 2018

A Invisibilidade da Surdez

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Por Diéfani Favareto Piovezan

Quando a pessoa possui uma deficiência física ela geralmente é facilmente identificada. Cadeiras de rodas, muletas, pernas mecânicas, bengalas, falta de membros, dificuldade na locomoção e outros.

Se a deficiência é visual, ela também pode ser identificada de várias formas, bengalas, cães guia, o fato da pessoa não focar olhar, algumas não possuem o globo ocular ou tem olhos esbranquiçados, as formas de notar são diversas e quase nunca passam despercebidas.

A deficiência é intelectiva? Certamente há inúmeras formas de que isso seja notado dependendo do tipo e grau. Sindrome de down e microcefalia são facilmente percebidos, autistas geralmente tem alguns tiques e manias e a lista se estende. Num geral, é notável.
E quando a deficiência é auditiva? Se a pessoa for usuária de LIBRAS e estiver em algum momento se comunicando com alguém, ai é fácil de saber mas e quando a pessoa está lá parada sem fazer nada ou é oralizada?

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8 de junho de 2016

A Dificil Tarefa de Educar as Pessoas sobre a Surdez

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Por Diéfani Favareto Piovezan

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Uma das maiores dificuldades que uma pessoa com surdez tardia ou diagnosticada tardiamente, é de fazer com que as pessoas que estão ao seu redor não somente compreendam o que está acontecendo e acreditem nisso mas acredito que a maior dificuldade está em educa-las sobre a surdez.

É bastante comum que as pessoas que convivem com o deficiente auditivo, fiquem desacreditadas. Professores, colegas de trabalho, colegas de escola, família, todos aqueles que deveriam dar suporte, acabam interpretando as dificuldades de comunicação como desinteresse ou falta de atenção.

Sem o apoio daqueles que deveriam estar ao seu lado, se a deficiência auditiva ainda não tiver sido diagnosticada, é muito provável que o individuo irá adiar a sua ida ao médico e acreditará que todos ao seu redor estão certos. Há casos em que as pessoas procuraram médicos somente após a situação ter se tornado extremamente crítica. Se já diagnosticada, muitos passam a ter vergonha da deficiência auditiva e passam a evitar situações sociais.

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